
O Ferroviário, boletim do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário (SNTSF), consultou as fontes da própria CP (designadas "Balanços Sociais da CP, REFER e EMEF") e apresentou resultados comparados entre 1992 (último ano da existência da CP como empresa pública) e 2008 (onde a CP está desmembrada e semi-privatizada em três empresas, CP + REFER + EMEF).
As comparações são chocantes.
Em termos de efectivos globais, desde 1992 até 2008 o número de trabalhadores diminuiu 10.218 em todas as áreas, à excepção do núcleo dirigente, onde houve um aumento de 11 gestores e 502 quadros superiores.
Daqui resultou que a relação trabalhador/quadro superior, que em1992 era de 35 para 1, passou em 2008 a ser de 9 para 1...
O SNTSF não hesita em assinalar que, na actual CP semi-privatizada e desmembrada, "reduz-se na área da produção para dar lugar, em muitos casos, aos “boys” dos diversos governos".
Quanto às despesas com pessoal, as assimetrias tornaram-se também abissais: entre 1992 e 2008 os custos com gestores cresceram 110%, enquanto com os restantes trabalhadores (onde se incluem os quadros superiores) cresceram apenas 23%.
Por isso as assimetrias se acentuam e os trabalhadores vêem as injustiças a crescer, frisa o Sindicato.
Mas o pior de tudo é que, ao contrário do que prometeram, os resultados não melhoraram, antes pelo contrário:
Hoje, as empresas divididas custam muito mais ao erário público do que em 1992, quando a CP era única no sector.
Os números não enganam e são arrasadores:
Em 1992, a CP tinha um défice acumulado de 178.048.602,87 euros (cerca de 178 milhões de euros); em 2008, o conjunto das três empresas (CP + REFER + EMEF) atingiram o défice acumulado de 433.202.416,46 euros (cerca de 433 milhões de euros), ou seja, entre 1992 e 2008 a CP aumentou quase duas vezes e meia o seu défice acumulado.
Todos nos lembramos da argumentação expendida pelos governantes da altura (como sempre, do PS ou do PSD/CDS), para justificar o desmembramento da CP em três empresas e decorrente entrega aos privados dos segmentos lucrativos: era imprescindível reduzir o défice da CP, a par de rentabilizar e agilizar o transporte ferroviário em Portugal.
O resultado está à vista:
O défice da CP passou, em 15 anos, para quase o triplo, o transporte ferroviário degradou-se, "encurtando" com a supressão regular de linhas e ramais, deixou de servir populações inteiras e vastas regiões porque a sua componente "privada" passou a privilegiar as linhas imediatamente rentáveis e a subalternizar ou a abandonar o que fosse "apenas" estratégico e de interesse público, tanto para as pessoas como para a economia e o desenvolvimento nacional – enfim, o transporte ferroviário, por definição mais económico, sustentado e ecológico foi sendo paulatinamente substituído pelo transporte rodoviário, muito mais caro e poluente.
A componente pública que se manteve na "nova CP" - fragmentada e semi-privatizada - tem servido para três coisas:
Para canalizar os dinheiros públicos, que por sua vez irão cobrir todos os défices, desmandos e investimentos necessários às explorações rentáveis e entregues de mão beijada aos privados e, finalmente, para alimentar a multidão de "amigos" dos sucessivos governos e governantes, por ali acomodados entre uma tão crescente legião de "gestores e quadros superiores" que, actualmente, o rácio já é de um desses quadros por nove trabalhadores...
Henrique Custódio
Jornalista
14.09.2009
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