terça-feira, 24 de maio de 2011

Despesa do Estado não caiu




O mais recente relatório da UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental) promete reacender a “guerra” de números em torno da real dimensão da redução do endividamento público, que aqueceu o frente-a-frente televisivo entre Passos Coelho e José Sócrates.

À conclusão da Direcção-geral do Orçamento, de que a despesa efectiva do Estado diminuiu 3% no primeiro trimestre do ano, a UTAO contrapõe que “esta aparente melhor execução da despesa reflecte apenas uma baixa execução do pagamento de juros da dívida pública, que se encontram concentrados no segundo trimestre, bem como uma baixa execução da despesa de capital”.

“Caso os juros e outros encargos fossem pagos de forma regular (de montante idêntico ao longo do ano), a despesa efectiva registaria, em Março, uma taxa de variação homóloga acumulada nula”, lê no relatório da UTAO.

Hoje o “Diário Económico” escreve que o Governo adiou despesa pública durante o primeiro trimestre para melhorar o défice do Estado em mais de 200 milhões de euros.

A conclusão decorre do mesmo relatório da UTAO: “A melhor execução na óptica de caixa beneficiou de um crescimento das dívidas dos Serviços Integrados [do Estado], cuja variação mais do que duplicou face ao período homólogo”, mediante “um acréscimo de 205,9 milhões de euros".

“Administração Interna, Ministério dos Negócios Estrangeiros e Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações foram os principais responsáveis pelo aumento de dívidas neste subsector, sendo as despesas com pessoal, aquisição de bens e serviços e transferências correntes, os agrupamentos de despesa que mais contribuíram para o acréscimo de dívidas neste período”, acrescenta o relatório.

O “Diário Económico” avança, por seu turno, que em causa estarão atrasos nos descontos de IRS referentes aos funcionários da GNR e PSP, na tutela da Administração Interna, e também o adiamento do pagamento das contribuições e quotas devidas a instituições internacionais, cujo pagamento está a cargo dos Negócios Estrangeiros.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Se o Strauss Khan tivesse tentado violar uma empregada de hotel portuguesa...




A empregada dificilmente faria queixa, com medo de represálias, designadamente de ser despedida.

Se a empregada fosse destemida, estivesse farta do emprego e fizesse queixa na polícia, o mais provável é que o polícia lhe dissesse para ter juízo e não se meter com trutas e ela desistia da queixa.

Se o polícia fosse chanfrado e/ou completamente inexperiente e desse seguimento à queixa, o mais provável é que Strauss Khan já estivesse a meio caminho de Paris quando a polícia chegasse ao aeroporto para o interpelar.

Se, por um bambúrrio de sorte, a polícia o conseguisse prender antes de ele sair do país, o mais provável seria ele ser ouvido por um magistrado que lhe fixava termo de identidade e residência, sendo que ele, na primeira oportunidade, punha-se a milhas porque tem mais que fazer do que aturar juízes atacados por excessos de zelo.

Se, por alguma razão inexplicável, o velho Khan ficasse em prisão preventiva:

1. No dia seguinte o Público traria um artigo do Dr. Mário Soares verberando a sede de protagonismo de alguns senhores magistrados que não hesitam perante nada para dar nas vistas.

2. Marinho Pinto desdobrar-se-ia perante diversas estações de televisão clamando que os juízes declararam guerra aos políticos e agora já prendem quem nos dá o pãozinho com manteiga, in casu, qualquer coisa como 78 mil milhões de euros que o maluco do juiz está a pôr em perigo; é pior do que nos tempos da PIDE.

3. O ministro da justiça diria que não compreende como é que um homem acima de qualquer suspeita é preso por um juiz português apenas com base num depoimento de uma pessoa, mas que irá pedir ao Conselho Superior da Magistratura para instaurar um inquérito no sentido de se apurarem responsabilidades, designadamente disciplinares.

4. Os chefes dos grupos parlamentares do PS e PSD dariam conferências de imprensa em que a nota dominante seria a de que é muito complicado viver num país em que os senhores juízes pensam que são governo e parlamento, não sabendo fazer a distinção que se impõe na óptica da separação dos poderes (o CDS, o BE e o PCP não diriam nada, alegando que há que respeitar o segredo de justiça, mas nas entrelinhas e em "off" deixariam escapar que é incrível o estado de completa roda livre a que a magistratura chegou).

5. As várias TVs fariam alguns inquéritos de rua em que alguns populares apareceriam dizendo que a "estúpida da preta" (não esquecer que a empregada vítima de tentativa de violação é negra) está mas é a ver se saca "algum" ao Strauss Khan, que toda a gente sabe que é milionário.

6. A presidência do conselho de ministros faria sair uma nota oficiosa indicando que mais uma vez se prova que se a oposição não tivesse irresponsavelmente inviabilizado o PEC IV, a reorganização judiciária já estaria em marcha, impossibilitando os protagonismos dos senhores juízes demasiado cheios de si próprios.

Azar dos azares: Strauss Khan não tentou violar nenhuma negra em Lisboa - fê-lo em Nova Iorque.

Por isso ficou em prisão preventiva, tendo a juiz recusado a sua oferta de prestação de caução no valor de 1 milhão de dólares.

FMI a Trabalhar




sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Substituto

Al Qaeda acaba de anunciar que José Sócrates ocupará o lugar deixado vago pela morte de Bin Laden.

O seu impressionante curriculum na destruição de um país e na sabotagem do Euro fazem dele o homem indicado para o lugar.



terça-feira, 26 de abril de 2011

Promiscuidade no seu esplendor

O Governo foi fiador de 20 mil milhões de euros de transacções intra bancárias. A este facto não será alheia a promiscuidade entre banca e governantes.
Os de hoje, vão estar como gestores da banca amanhã, pois os de ontem, já estão por lá hoje. Senão vejamos:

Fernando Nogueira
Antes - Ministro da Presidência, Justiça e Defesa
Agora - Presidente do BCP Angola

José de Oliveira e Costa:
Antes - Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Agora - Presidente do Banco Português de Negócios (BPN)

Rui Machete
Antes - Ministro dos Assuntos Sociais
Agora - Presidente do Conselho Superior do BPN; Presidente do Conselho Executivo da FLAD

Armando Vara
Antes - Ministro adjunto do Primeiro Ministro
Agora - Vice-Presidente do BCP

Paulo Teixeira Pinto
Antes - Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros
Agora - Presidente do BCP

António Vitorino
Antes -Ministro da Presidência e da Defesa
Agora - Vice-Presidente da PT Internacional; Presidente da Assembleia Geral do Santander Totta

Celeste Cardona
Antes - Ministra da Justiça
Agora - Vogal do CA da CGD

José Silveira Godinho
Antes - Secretário de Estado das Finanças
Agora - Administrador do BES

João de Deus Pinheiro
Antes - Ministro da Educação e Negócios Estrangeiros
Agora - Vogal do CA do Banco Privado Português

Elias da Costa
Antes - Secretário de Estado da Construção e Habitação
Agora - Vogal do CA do BES

Ferreira do Amaral
Antes - Ministro das Obras Públicas
Agora - Presidente da Lusoponte

segunda-feira, 25 de abril de 2011

QI




Um indivíduo entra num bar novo, hi-tech, e pede uma bebida. O barman é um robô que lhe pergunta:
- Qual é o seu QI?
O homem responde:
- 150.
Então o robô serve um cocktail perfeito e inicia uma conversa sobre aquecimento global, espiritualidade, física quântica, interdependência ambiental, teoria das cordas, nanotecnologia e por aí fora.

O tipo ficou impressionado, e resolveu testar o robô. Saiu, deu uma Volta e regressou ao balcão. Novamente o robô pergunta:
- Qual é o seu QI?
O homem responde:
- Deve ser uns 100.
Imediatamente o robô serve-lhe um whisky e começa a falar, agora sobre futebol, fórmula 1, super-modelos, comidas favoritas, armas, mulheres e outros assuntos semelhantes.

O sujeito ficou abismado. Sai do bar, pára, pensa e resolve voltar e fazer mais um teste. Novamente o robô pergunta:
- Qual é o seu QI?
O homem disfarça e responde:
- Uns 20, acho eu!
Então o robô serve-lhe uma pinga de tinto carrascão, inclina-se no balcão e diz-lhe devagarinho:
- E então meu, vamos votar no Sócrates outra vez?

domingo, 24 de abril de 2011

A realidade virtual do jornalismo português




Os media conseguem fazer uma campanha só com fait divers. Foi assim em 2009: os jornalistas conseguiram fazer uma campanha sem forçar o tema central do país (endividamento).

A coisa parece que se vai repetir. Há um tango permanente entre os media e o spin de Sócrates.

O tom e a escolha de temas favorece sempre os malabarismos de Sócrates e prejudicam aqueles que querem falar seriamente da realidade. Ferreira Leite foi crucificada por causa disto.

Na sociedade e, por arrastamento, nos media, existe uma cultura de cinismo pós-moderno que chega ao ponto de desprezar a realidade ("ai, o Medina Carreira diz sempre a mesma coisa"; pois, a realidade e verdade não mudam, meus amores) em detrimento dos jogos florais ("ai, o Nobre", "ai, o telefonema").

Por uma vez na vida eu gostava de ver os media preocupados com a realidade do país e não com os joguinhos dos mestres do spin. E a realidade é esta:

I. Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos. Temos a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE. Há maior fracasso que este? Mas é inacreditável o silêncio dos media em relação a esta fuga em massa de portugueses. Parece que é tabu. Nós estamos a emigrar como nos anos 60, mas não se fala disso.

II. Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos.

III. Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100% do PIB. E esta dívida pública sem precedentes não inclui os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelo PS para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito.

IV. Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%. Em 2011, a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar.

V. Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos, e nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações.

VI. A nossa dívida externa bruta em 1995 era inferior a 40% do PIB. Hoje é de 230% do PIB. As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível.

VII. Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado.

VIII. E há muito mais.

Em vez de partirem desta base, os media partem do spin que chega às redacções. Os jornalistas não vão à procura da realidade pelo seu próprio pé. Recebem a realidade filtrada pela indústria do spin associada ao Poder. Temos, assim, um debate inquinado à partida, um debate sempre enxameado de casos e fait-divers. Há um nevoeiro permanente em redor da realidade, em redor dos problemas.

Em Portugal, a realidade não é a gramática dos jornalistas e dos media. Neste terreno, os demagogos vencem sempre. Quando os factos e a realidade não são o vocabulário do debate público, os demagogos vencem sempre.

Henrique Raposo